sexta-feira, 2 de março de 2007
Uma lata de sardinha ambulante
sexta-feira, 15 de dezembro de 2006
Arte Passageira e Ação Direta
Antes do ônibus Carne estacionar em nossa porta, acreditávamos que o 'Arte Passageira' nos traria um assunto muito importante para reflexão: o ônibus, o coletivo, o transporte, as distâncias. Começamos por aí, estimulando nossa memória através de leituras e contando histórias que se passaram dentro de coletivos.
Quando Lívia nos brindou com uma discussão sobre Arte Contemporânea, a perspectiva começou a mudar. Após a primeira visita, passamos uma tarde inteira conversando sobre Arte. Ninguém queria ainda falar sobre algo tão corriqueiro quanto os ônibus. O assunto era quem é o artista da sociedade nossa; o que são os museus e seus reservatórios (ou assaltos?) culturais; como percebemos a arte e como ela se inscreve no nosso cotidiano; alta cultura x baixa cultura - qual o embate entre tradição e arte contemporânea; como a obra de arte contemporânea permite resgatar a história (como foi o caso apresentado por Lívia nas receitas molotof das garrafinhas de coca-cola); entre tantos outros temas.
Essa oportunidade de discutir arte contemporânea nos trouxe a chance concreta de discutir engajamento e de querer provocar mudanças. O que de primeiro olhar era muito rico para nós – o tema do transporte coletivo – virou caminho de discutir nossa atuação política na comunidade. E uma intervenção política que parece a mais rica e de maior aceitação nos tempos que vivemos – a artística.
Não tínhamos ainda essa clareza ao desenvolver as atividades que seguiram a visita do ônibus. Foram os debates promovidos pelas visitas do 'Arte Passageira' que me fazem acreditar que o projeto tem o potencial de revelar para os jovens o caminho de intervenção na realidade que os inscreve.
As atividades que propusemos foram importantes para desvelar essa realidade. Um exemplo disso foram as histórias passadas em ônibus que os jovens contaram, revelando inúmeros casos de abusos sexuais que nunca são percebidos ou combatidos como tais. A escritura e o debate trouxeram a tona estes problemas. A paródia do poema Amor, de Luiz Fernando Veríssimo, mostrou ônibus que passam por cima da lei e de seus passageiros, atropelando-os, assaltando-os, chacoalhando-os a seu bel-prazer. Ônibus que flertam com carros de luxo, mas também o repelem, afirmando as diferenças entre o passageiro do carro esporte e o passageiro no 'vuco-vuco do busão', com 'cheiro de leitão'.
Aprofundar a percepção e o entendimento dos problemas que afligem nossa sociedade e nossos jovens é objetivo de qualquer projeto pedagógico digno de apreciação. Mas o 'Arte Passageira' vai além disso, seu potencial está em promover a mudança dessa realidade. A atuação dos jovens, convidando os passantes a entrar no Carne, colocou-os em posição ativa frente a comunidade: o Carne promoveu a ação direta.